domingo, 11 de novembro de 2012

Eu não me acostumo [Parte 1]

Este é um domingo bem diferente. Acordei às 6 horas da manhã, peguei busão, metrô e cheguei até o local onde ocorre, neste momento, o "Exame do CREMESP". Trata-se de uma prova aplicada a todo sexto-anista (formando) de Medicina do estado de São Paulo, estritamente teórica e, segundo o próprio Conselho Regional de Medicina, capaz de avaliar a capacidade médica de um indivíduo. Bom e digno médico seria aquele que acertasse mais de 60% das 120 questões objetivas que compõem o Exame. A prova é obrigatória para solicitar a retirada da carteira profissional (número de CRM) no estado, entretanto o resultado pessoal não é condicionante para se retirá-la. O CREMESP lança mão da verdade uníssona de que todos (profissionais, pacientes e população) querem uma saúde de qualidade e tenta vender este modelo de avaliação como uma solução para os problemas da saúde e da má prática médica. Um erro!

Todos nós já passamos por avaliações ao longo da vida e passaremos ainda por muitas. O que eu, baseado em muitas discussões e elaborações a respeito deste Exame, das quais participei, vejo é que a preocupação do CREMESP (um conselho fiscalizador do exercício profissional) não é a Educação e a formação Médica ou a proteção à saúde da população. Este exame terminal, que coloca a culpa de uma formação deficiente apenas no estudante, que desconsidera as escolas e que analisa poucas características essencias a uma boa prática médica não pode ser difundido como algo brilhante e revolucionário, como diz o CREMESP e é aceito pelos mais desavisados. O CREMESP diz que um dos problemas do aumento do número de casos de erro médico é o decréscimo na qualidade da formação médica sustentado pela abertura de escolas despreparadas e desqualificadas. Segundo ele, o exame seria o meio pra dar um basta nesta questão. Esquece o CREMESP que os motivos para se verificar um erro médico ultrapassam muito a formação do estudante e envolvem as insustentáveis condições de trabalho, como por exemplo as extensas e estressantes jornadas de trabalho com as quais o médico convive. Além disso, esquece o CREMESP das estatísticas que revelam que quem anda cometendo erro médico não é o recém-formado, mas sim o profissional no mercado há mais de uma década envolvido com todas aquelas condições tormentosas. 

Frente a tudo isso e mais um tanto de pontos de contestação discutidas no Movimento Estudantil de Medicina nos últimos anos e especilamente nos últimos meses, que inclusive estão amplamente divulgados no blog da DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) Regional Sul-2 tenho uma posição contrária e este modelo de Exame e não me acostumo a ver as decisões unilaterais (como a que instituiu a obrigatoriedade do exame) prevalecerem da forma autoritária como estamos vendo.

Lá no local do Exame, onde fui esta manhã, nos mobilizamos (alunos da USP, UNIFESP, Santa Casa, UNESP, UNICAMP e outros) para divulgar a opção pelo boicote à prova lançada pelo CAAL-UNICAMP e apoiada por várias assembleias de estudantes e outros Centros Acadêmicos. Não acreditamos na fidelidade entre o resultado desta prova e a vocação e conhecimento médico do formando, além de ser errada uma avaliação somente desse aluno em detrimento da sua escola médica. Além de tudo, essa avaliação antecipa um futuro Exame de Ordem que o próprio CREMESP defende, algo que poderia taxar qualquer bacharel em Medicina de incapaz e desqualificado e não oferecer chances de ele reorientar sua formação, buscando corrigir falhas, uma vez que ele já estaria fora da escola médica.

A voz de hoje é: Exame do CREMESP NÃO! Queremos e precisamos ser avaliados de verdade, pelos órgãos a que isso compete. Queremos uma educação médica de qualidade e uma saúde melhor.

Eu continuarei a não me acostumar e trago mais no próximo domingo ao meio-dia. 

Boa tarde. Boa semana.

Polin Maia

domingo, 4 de novembro de 2012

Amizade de verdade

Há um ano e três dias eu publiquei aqui neste blog uma pequena postagem em que manifestei minha vontade de escrever sobre a minha amizade com a Bruna Tavares (AQUI). Prometi fazer aquilo no próximo dia, mas não o fiz. Desculpa pela demora, Bruna. Penso que deixei para fazer e estou fazendo num momento mais oportuno.

Em 1º de novembro do ano passado, nós dois estudávamos o sexto período de Bioquímica na UFV e éramos integrantes e defensores do PET-Bioquímica, onde aprendemos muito sobre muita coisa. Estávamos complicados numa disciplina da faculdade, que depois de um mês se tornou a gota d'água para eu decidir mudar os rumos da minha vida. Havia uma prova dessa disciplina terrível e nós não fizemos esta prova. A gente, naquela época, tava compartilhando a mesma sensação de que algo deveria mudar, precisávamos melhorar e encontrar algo que nos fizesse mais felizes. Não estávamos sendo aquilo que gostaríamos de ser nesta vida (espero estar falando verdades, Bruna). Foi então que fizemos uma promessa: Tudo havia de melhorar, batalharíamos mais e estaríamos de bem com a vida.

Eu nunca saberei se estou de bem com a vida, mas a estou movimentando. E a Bruna também tem feito isso. Alguns meses depois me mudei pra São Paulo e vim estudar Medicina e a primeira pessoa da minha vida do ano passado que vi aqui nessa cidade incrível foi a Bruna. Trocamos ideias, como aprendemos a fazer em alguns anos de amizade, e eu estou torcendo muito pelo sucesso dela desde então (na verdade já fazia isso antes). A amizade do ano passado é a amizade de agora e de "daqui pro resto da vida". Conto com ela pra muitas parcerias ainda.

Conhecemo-nos em 2009 e eu fui parar na casa dela na primeira semana de aulas pra estudar Cálculo I (saudade zero dessas coisas). Em 2010 fomos trabalhar no PET, e desde o início dávamos certo trabalhando juntos. A gente sonhava com grandes feitos para o nosso PET, e não descansávamos quando era necessário qualquer trabalho. A Bruna é um ótima trab(bat)alhadora! A gente viajou legal em 2011 - de São Carlos a Goiânia, de Alfenas à Serra do Brigadeiro, fomos aumentando uma amizade que agora resolvi chamar de "amizade de verdade". Amizade de preocupação, de reconhecer o que o outro está sentindo e de querer estar junto deste alguém. Quero muito poder lhe reencontrar várias vezes nos caminhos dessa vida, Bruna.

Pensei muito em você neste fim de semana, enquanto dava mais um passo para a sua felicidade. E torço muito pelo seu sucesso e, muito mais que isso, torço para estar aqui (ainda que a uns 800 km de distância) para lhe apoiar e amparar em cada decisão ou ocorrência. Bruna, aqui está um amigo de verdade que você gentilmente fez nos caminhos dessa vida.

Estou com saudades e precisando compartilhar muita coisa com você. Compartilhar a alegria que me dá ter amigos.


Excelente semana! Até o próximo domingo, quando quero recomeçar as postagens de domingo ao meio-dia.

Paulo Henrique

terça-feira, 2 de outubro de 2012

Enquanto me faltam dizeres...

Minha vida é um eterno acúmulo
Nada passa, tudo fica, tudo a compõe
Às vezes não suporto a ausência
Às vezes não suporto a presença
Intermináveis são os meus dias
Concluo muito pouco sobre o que faço
Faço muito pouco para concluir alguma coisa
Perco e ganho meu tempo fazendo poesia
Poesia pouco sincera, de pouca verdade
Poesia pros outros saberem das minhas mentiras
Porque a verdade mais doída ainda teima em apertar o meu peito.


domingo, 30 de setembro de 2012

Ninguém = Ninguém

(Engenheiros do Hawaii)
[...]
Há tantos quadros na parede
Há tantas formas de se ver o mesmo quadro
Há palavras que nunca são ditas
Há muitas vozes repetindo a mesma frase:
Ninguém é igual ninguém
Me espanta que tanta gente minta
(descaradamente) a mesma mentira
[...]

Há uma verdade proclamada aos muitos cantos do mundo que eu cada vez mais teimo em não aceitar: cada um é único e não se compara gentes. Nascemos num único dia que é nosso, que a cada ano faz as pessoas se lembrarem quase sempre com carinho da gente. Vivemos cada dia da nossa forma, do modo como aprendemos a ser. Damos viva à individualidade quando realizamos aquelas ações que apenas a gente planejou, sonhou e conquistou. Cada coisa construída em conjunto tem influência de algo que está muito internamente na mente de um ou outro. O mundo existe graças às atividades conjuntas das pessoas, porém, mais do que tudo, existe graças às particularidades de cada um, aos seus modos únicos de trabalhar nesse curto espaço de tempo que é a vida da gente.

Há uma segunda verdade. A de que as pessoas me influenciam de um modo muito drástico, para o bem e para o mal. Revisando toda a minha vida, destacaria duas mulheres que formaram, junto a mim (porque eu espero ter um papel atuante na construção do que sou), aquilo que de mais evidente e verdadeiro eu tenho. Uma delas é a minha mãe e a outra é minha melhor amiga de todos os tempos, a menina de nome composto que mudou um adolescente sem rumo em alguém meio decente. Infelizmente essas duas mulheres ficaram em meu antigo estado, amo-as descontroladamente, apesar de em alguns momentos elas não acreditarem. As duas foram destaque em vários momentos e períodos mais felizes e mais tristes de minha vida, ainda que não saibam bem disso. Felizmente, mesmo as amando, a distância é importante para me fazer ver que há uma necessidade imensa de eu ser o ator principal da minha história.

Entre essas duas verdades, estou eu aqui hoje tentando encontrar o que sou, tentando perceber o que posso aproveitar nas pessoas e o que devo valorizar em mim. Tentando me agarrar a alguma verdade que seja unicamente minha, tentando começar a traçar um caminho que seja mais fiel ao que eu penso e ao que eu sinto.

Eu estou numa busca ferrenha por minha identidade, e nisso tudo posso magoar uns e outros que eu também amo. Continuo não querendo perder pessoas. Continuo achando as pessoas a coisa mais bonita da vida, continuo achando o máximo gostar de gentes.

Boa Semana!

Polin

domingo, 23 de setembro de 2012

(sem assunto)

Hoje é domingo. Como sempre, já não é mais meio-dia e aquela minha promessa de "escrever e publicar todo domingo ao meio-dia" já foi pro saco há muito. Mas não tem problema, talvez o meu domingo ao meio-dia sempre seja domingo à tarde, e eu não tenho nenhum fã louco esperando pontual e ansiosamente por minhas postagens.

Desde que acordei, me vi pensando em um tema para publicar hoje e decidi por isso: sem assunto!

Sabe quando você recebe um e-mail "sem assunto" e reflete sobre a preguiça do seu remetente em colocar o assunto ou pensa que o conteúdo do e-mail não presta? E quando você se esquece de colocar o assunto no seu e-mail e queria muito cancelá-lo e mandar outro com o assunto, desolado? Entende estas situações? E tem aquelas raras vezes em que você sente que é mesmo muito pouco importante colocar o assunto, porque talvez a pessoa apenas pediu que você enviasse um anexo para ela! Mas eu acho o assunto algo essencial.

Mas hoje estou sem assunto. Sem um assunto agradável, sem um assunto audível, legível (e algumas vezes esse adjetivo tem este significado!), interessante, prazeroso, informativo, questionador, poético, humanístico, político ou decente.

Tenho apenas dor de dente. Mais dor nas costas. Tenho um final de semana diferente. Tenho um aperto semanal acumulado no peito. Tenho o frio e o calor oscilantes que tiveram São Paulo nessa última semana. Tenho as palavras que falei, os discursos que fiz e os abraços que dei. Tenho o álcool que eu quis que me fizesse esquecer. Tenho o esquecimento como alternativa pouco atingível. Tenho um passado que relembrei, um futuro que sonhei, um presente com o qual não me alegrei. Tenho pessoas que relembrei, pessoas com as quais sonhei, pessoas com as quais não me alegrei. Tenho atos políticos, atos festivos, atos acadêmicos, mas nada é muito completo e completa um assunto.

Enfim, ao escrever, estou tendo a sensação de que ando tendo muita coisa quando na verdade as minhas necessidades são bem menores. Acabo querendo muito e me sentindo vazio sempre. Acabo invejando e sofrendo. Acabo usando o gerúndio rotineiramente, o que dá a ideia de que as coisas estão indo, de que tudo está caminhando... mas estou eu no particípio, empacado.

Não sei se escolher esse assunto (sem assunto) foi uma boa ideia. Talvez um dia em que eu estiver com mais assunto, eu consiga falar melhor sobre ele. 

Estou animado devido ao caráter paradoxal do que acabei de escrever. Começo a pensar que é digno de publicação, talvez apenas por essa característica.

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Essa semana relembrei de uma frase que eu criei pra mim: "Sou um pequeno poeta palhaço, precisando de mais tempo e menos espaço". Acho ela boa para uma camiseta! Farei-a logo.

Abraços. Uma boa semana!

Polin Maia

domingo, 16 de setembro de 2012

Pêndulo

Tenho me visto como um pêndulo, como alguém que ao mesmo tempo busca novos ares, quer ir ao limite e como alguém que incansavelmente deseja um equilíbrio na vida. Alguém que passa muito sorrateiramente por posições de equilíbrio, mas que só é reconhecido pelo que é devido à capacidade de oscilar.

Oscilo muito, de forma exagerada, de forma que eu me pergunto várias vezes o que fiz para ser assim, o que fizeram para eu ser assim, o que fazer para não ser assim?! Não sei administar doses homeopáticas de sensações e sentimentos (lembrando H. Gessinger), tudo é levado em minha mente ao extremo, ao complexo, ao mais aturdido significado. Fico pensando se se trata de um processo natural da vida e se é progressivo, constante ou qualquer dia irá declinar. Penso também se há muitos outros iguais a mim. Penso muito em quem não é ou parece ser igual a mim, e os admiro incontrolavelmente.

Meu histórico de admirações por algumas pessoas tem feito uma grande bagunça na minha cabeça. Não posso admirar que a oscilação logo toma conta da admiração, e, pobre de quem convive comigo, sofre os efeitos desta minha característica tão intrínseca. Acho que já perdi amigos e fiz outros devido a tudo isso, e sei que perder amizades é para mim um dos golpes mais cruéis. Não suporto, simplesmente. Tenho aversão àquelas pessoas que dizem "sou mais eu"! Não sou nada disso, "sou os outros", sou eternamente dependente do próximo.

Chego a pensar várias vezes que minha vida anda um lixo, remendada, cheia de trincas, tristes cacos. Outras vezes ela é a melhor vida que eu poderia ter, as melhores sensações que eu poderia experimentar. Quem está pensando que eu parafraseio aquela máxima de que na vida ocorrem episódios alternados de alegria e de tristeza, digo que é mais profundo que isso. A questão não são os episódios, é o meu próprio ser. O meu próprio ser que na alegria não é capaz de vivê-la por inteiro, idem na tristeza. Como exemplo, na tristeza, escrevo da forma como mais gosto e isso me traz alguma alegria. O episódio de escrever não é alegre ou triste, tudo é mais subjetivo, tudo é inclusive difícil de ser explicado, tudo é muito eu e meu.

Daquelas pessoas aparentemente não-oscilantes, eu guardo um sentimento extrememente agradável. Elas me ensinam muito, elas são meu "peso" que quer me fixar à posição de equilíbrio, elas estão aí pra ser a minha "resistência do ar". Elas estão aí pra eu desenvolver sentimentos e admirações bagunçadas, mas que no fundo me fazem acreditar na opção de que a oscilação é passageira e está em declínio. Elas estão aí, ainda, pra me empurrar novamente se ficar provado que eu não nasci mesmo para estar em equilíbrio.

Acho que eu sou oscilante assim porque foi a forma que encontrei de encontrar muita gente. Porque eu gosto muito de gente. Porque eu acho o máximo gostar de alguéns.

Boa tarde,

Polin.

domingo, 26 de agosto de 2012

Ser um médico paciente

Eu ainda tenho algum receio de falar sobre a área médica/saúde por aqui. Talvez por medo de falar alguma besteira, porque realmente existe aquela sensação de que sabemos muito pouco sobre qualquer coisa. Ou talvez porque ao falar da área médica/saúde eu mude um pouco a cara do blog, no qual tenho seguido a linha "como estou nestes dias". Sempre haverão receios e é necessário que haja uma primeira vez. Meio que inauguro os assuntos médicos por aqui, tudo bem?

Então. Ontem, sábado, 25 de agosto de 2012, saí de casa bem cedinho para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde estudo. Fui fazer uns exames que estavam pedidos há um tempo pelo serviço de Saúde dos Alunos e aproveitei para fazer uma anamnese. Anamnese é uma entrevista feita pelo profissional de saúde com seu paciente a fim de iniciar o processo diagnóstico. Para quem está iniciando, como eu, leva mais de uma hora. Para quem é lento e gosta de conversar, como eu, leva até duas (rs). A Santa Casa, que é enorme (um foto dela ao final desta postagem), é dividida em departamentos e ontem eu fui ao Departamento de Medicina (DM), onde algumas áreas clínicas atendem, para fazer a dita anamnese.

Lá no DM andei pelos corredores observando as enfermarias. Não gosto muito de escolher o paciente "para treinar" pelo seu prontuário (aquele documento onde são anotadas todas as informações e ações relacionadas ao paciente) e sim pela receptividade dele quando apareço de surpresa no seu quarto de internação. A receptividade da D. Lindinha (*) foi grande e tive o prazer de conhecer uma alma muito iluminada capaz de transformar o meu dia. Tudo o que eu tinha a oferecer a ela eram perguntas e mais perguntas sobre sua vida e seu organismo, suas dores e suas queixas... e por eu ter essa alma de poeta palhaço, pergunto também sobre seus dilemas mais internos e tento fazer alguma graça. E, por outro lado, ela tinha muito mais a me oferecer - tinha uma vida toda de moléstias, de dores, de pesares e de curas, de superações, de determinações e de esperança. D. Lindinha, que acabava de sofrer sua internação por um médico gastroenterologista, não tinha acompanhantes (não sei porquê) mas tinha 76 anos de muita história bonita para contar. E contou um pouquinho, com prazer.

D. Lindinha nasceu no Pernambuco, na roça (identifiquei-me logo) em 1936 e casou-se aos 14 anos. Não teve um casamento feliz do ponto de vista conjugal, mas teve filhos e ficou claro que ela não deixou de lutar por eles a vida toda. Talvez lute até hoje, com as forças que ainda lhe sobram. São forças divinas, como ela gosta de falar. D. Lindinha tem problemas no estômago e há alguns anos perdeu o prazer de se alimentar (imagino como ela deva saber fazer coisas gostosas - lembro-me das minhas vovós, tias-avós e tias neste momento) e controla muito bem o que come para não sofrer. Ela é paciente com seu estado de saúde. Aceita as imposições do tempo e do mundo e não perde a esperança.

D. Lindinha tem uma confiança muito grande nas pessoas e imagino quantas ela já amparou por seu caminho. D. Lindinha teve muita confiança em mim, desde o momento em que me apresentei um pouco acanhado até o momento em que ensaiei um exame físico geral nela. D. Lindinha teve toda a paciência do mundo comigo. Tratamos de vários assuntos fisiológicos, de todas as partes do corpo, de todos os medicamentos, de boa parte de sua família e de suas histórias. Eu, que assumo aqui que em quase toda conversa tenho uma necessidade muito grande de me expor, talvez para superar meu interlocutor, me senti completamente à vontade em apenas ouvir e no máximo fazer perguntas. Percebi que a relação de um médico (talvez eu receba essa denominação daqui alguns anos) com seu paciente é totalmente diferente - é uma dedicação a ele, incondicional! Entendi que ser paciente com o seu paciente é a receita ideal. Ser paciente a ponto de ter a oportunidade de chegar no mais íntimo do sofrimento do seu paciente. Isto é o que eu destacaria como meu ideal de trabalho: conseguir ser o mais paciente possível!

Demorei as tais duas horas na entrevista. "Passou voando", como dizem. Saí do DM e fui almoçar no bandejão da mesma Santa Casa. Refleti um pouco sobre a minha manhã - ensaiei ser paciente (exames de sangue e radiografias) e ser um médico paciente. E pensei que quero ser assim por toda a minha vida e minha futura profissão. Voltarei a ver D. Lindinha durante essa semana, mas torço muito para que ela receba alta em breve. Aprendi muito mais Medicina neste final de semana do que nas últimas três semanas agitadas de provas e seminários da faculdade. E que o aprendizado seja cada vez mais confortável e mais prazeroso. Podemos lutar por isso!

Não consigo concluir nada. Esta história não tem fim, como o aprendizado e a paciência não devem ter.

Uma excelente semana para todos vocês!

Polin Maia

(*) D. Lindinha só tem esse nome porque eu exclusivamente a achei a coisa mais lindinha do mundo. Seu nome estava no prontuário, mas eu não gosto de prontuários. Eles revelam o paciente e nunca a paciência...

Domingo e já não é mais meio-dia...

Bem, eu havia decidido a publicar neste blog pelo menos todo domingo ao meio-dia. Tive esta ideia no domingo passado, quando publiquei o texto que está aqui embaixo (ESTE). Quem faz isso é o Humberto Gessinger Blogessinger (e outros vários escritores de blog, imagino) e eu achei que seria uma boa. Logo de cara, não consigo manter esta ordem, porque o texto dessa semana não foi preparado com antecedência. Acho que alguns de vocês já me conhece bastante e sabe que costumo enrolar bastante, procrastinar mais ainda, mas tomara que isto tenha solução e de vocês eu receba o perdão, por qualquer besteira. 

Bem (2), irei postar o texto dessa semana. Descobri que escreveria sobre ele ontem e a situação do dia de ontem mais a possibilidade de escrever um texto sobre me renderam alguma alegria.

Bem (3), estou satisfeito com algumas coisas que têm acontecido com minha vida. Estou me dedicando mais à faculdade de Medicina, tenho dado conta de acompanhar os temas pelos quais me interesso na área médica e na área não-médica, tenho feito amizades sinceras, tenho lido, tenho recebido uma certa tranquilidade da minha família e acho que o Projeto Biblioteca da Venda está caminhando bem. Queria dar mais conta de política, sentimentos, de escrever e de ser mais organizado com relação ao tempo. Mas tudo tem seu tempo, e um dia aprenderei a controlar essas coisas. O violão está guardado há uns dois meses, tá na hora de comprar a corda que falta e tentar alguma coisa. Sexta-feira viajarei para Minas, e será excelente, confio!

Bem (4), ao texto!

Abraço.

domingo, 19 de agosto de 2012

Domingo ao meio-dia

Vontade de chorar. Vontade de falar a todo mundo e a mim mesmo o que está mais fundo em meu coração e em minha mente. Uma mistura de sentimentos me toma. Uma dor esternal sempre do lado do coração, que vai e volta. Devem ser as feridas bombeásticas, que cavam,  coronárias, aórticas, mitrais, triscúspides, infernais.

Os Infernais e Nando Reis. Xará Toller e os Abóboras Selvagens, que eu sempre agradeço por tocar canções para mim desde antes de eu nascer. Estou escutando vocês!

Essa mesma vontade de chorar de 2 minutos atrás passa, da mesma forma que tudo na vida. Os amores passam, as pessoas passam, as vontades passam. Passamos despercebidos por aqueles de quem dependemos. E às vezes nos percebem só para mostrar que não percebem do modo como e quando queríamos.

Essa sensação de que a vida está passando muito rápido, de que não estou dando conta de viver. Engraçado eu ser tão rápido para algumas coisas, medroso para outras e desacelerar quando estou sozinho. Engraçado eu ter 21 anos. Engraçado eu falar tanto de minha família. Engraçado eu ser filho único. Engraçado eu me apaixonar por quase tudo à primeira vista. Engraçado eu não ser apaixonado por nada. Uma graça!

Uma graça sem graça de alguém com dor para-esternal. É uma daquelas dores que surgem quando sua fisiologia e sua mente são bruscamente alteradas. Se eu ao menos fosse médico para diagnosticar isso. E se os médicos fossem capazes de diagnosticar! Ah, se tudo fosse diagnosticável! Se tudo fosse aceitável, tratável! Ah, eu queria voltar a ter 13 anos!

Agora me veio outra banda - Capital Inicial (costumo dizer que tenho um certo desprezo inexplicável pelo Dinho Ouro Preto, mas admiro algumas de suas músicas) e uma canção, "Não olhe pra trás", deles. Quando eu tinha 13 anos, e um fardo muito menor para carregar, eu escutava essa canção e acho que não tinha muito motivo para nao olhar pra trás. O chato é hoje ter motivos.

Falar sobre mim é assim. Uma superposição de pensamentos. É assim que a mente funciona e o modo como eu coloco no papel ou no editor de textos.

Tenho vontade de não gastar dinheiro, de não dormir, de não estudar, de não ser nada. Mas tenho receio de ser nada, de não ser alguém, de morrer e de ser maltratado.

Assumo posturas opostas. Assumo vontades que não tenho. Assumo publicamente minha incapacidade de ser linear. E respeito seu desprezo por mim. E sua amizade eu venero.

Bom domingo!

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Vó Maria

Minha vovó mais vovozinha
Mais esperta mocinha aos seus noventa e oito
Isso se chama dádiva e nós, insensíveis,
Chamamos idade os teus anos de luz.

O teu carinho que alegra, que agrega e estremece a Terra.
Como é ter tantos teus como tens a Senhora?
Aprendi que família pode ser um tudo
E é tudo e é pra ela que eu também vivo.

O teu amor está em cada lembrancinha que me destes
Em cada instante por nós compartilhado
A tua esperteza é para ser admirada
E a Senhora, eternamente, adorada
Por todos os teus que são tantos.

Polin Maia

WC Ocupado

Eu viajava de Conselheiro Lafaiete (MG) para São Paulo em um ônibus bastante moderno, no fim das últimas férias escolares. 10 horas de viagem. Um pequeno painel à frente das poltronas indicava alternadamente o horário, com imprecisão de uns 5 minutos; a temperatura externa, informação com pouca utilidade prática, já que não havia janelas e todos estávamos numa temperatura interna e a situação de ocupação daquele ridículo banheiro dos ônibus. Penso que a despeito de tudo isso, alguns prefeririam ser avisados sobre o que rolava na novela das oito/nove naquela noite de segunda-feira em que nos encontrávamos dentro do busão ou até mesmo o valor do real frente ao dólar, o quadro de medalhas dos jogos olímpicos de Londres etc. Mas preferiam que visualizássemos como a hora demora a passar para quem não dorme em viagem e a temperatura atmosférica à qual não estávamos submetidos graças aos modernos aparelhos de ar condicionado, sem falar em...

Quando ninguém ocupava o tal banheiro (WC) apenas a hora meio incerta e a temperatura a que se sujeitava a parte externa do transporte eram indicadas no painelzinho, mas quando um cidadão resolvia entrar no cubículo para fazer suas necessidades, todos os passageiros acordados eram informados disso, com a expressiva mensagem WC OCUPADO surgindo assim que o cidadão, no livre exercício de suas funções fisiológicas, fechava, pouco habilmente, a porta. Era de assustar, a mensagem vinha instantaneamente, atropelava a hora e a temperatura e aparecia com toda a força, querendo dizer TEM ALGUÉM MIJANDO ALI ATRÁS. Nunca gostei de ir nesse tipo de toillete, mas quando é muito necessário ir até lá, tento não revelar a todos que estou indo mijar de forma tão cambaleante e com tanto risco de me molhar não necessariamente com água, deixando para ir num momento em que todos estão de olhos fechados e ausentes de suas percepções. Mas com o WC OCUPADO todos sabem que tem alguém no cubículo, inclusive sabem há quanto tempo esta pessoa está lá – que situação mais estranha!
  
Infelizmente não sei discorrer mais sobre o porquê de não ter gostado daquele painel, mas toda essa observação foi altamente pessoal e o incômodo também foi pessoal. Mas é por aí mesmo, fiz a viagem solitariamente, sem ninguém disponível pra puxar papo, corroborar ou discordar. Preciso confessar que descobri que uma pessoa permanceu por uns oito minutos no cubículo, mas não sei a que corpo essa alma cagante, simbolizada virtualmente pelo WC OCUPADO, pertence, pois estive sentado numa das primeiras poltronas.

Na chegada, alguém perdeu um papelzinho que credencia você a retirar sua bagagem com o encarregado de pegar as bagagens no assoalho do ônibus. O encarregado, na tentativa de entregar de forma correta a bagagem do senhor que havia perdido o papelzinho, pediu para que fosse descrito o conteúdo da mala, a fim de que depois ele a abrisse e conferisse e fizesse direito o seu trabalho, entregando a César o que é de César... Encabulado, o senhor disse que tinha um pacote de roupa íntima “de muié” em sua mala, que sua dona e ele revendiam quando algum dos dois viajava pro interior. E só revendiam! Que ficasse bem claro!
Polin Maia

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Dia do Amigo

Da mesma forma que a maioria dos meus posts neste blog, hoje venho falar de mim e das coisas que me ocorrem.

Várias e várias vezes manifesto minha vontade de mudar, de superar os desafios da minha existência. Um querer ser mais, ser melhor, ser mais autêntico, mais verdadeiro, mais sábio, mais interessante. Uma busca muitas vezes vazia, dura, errada. Sou anti-natural por natureza, diria confuso. Estou de férias e como sempre neste período, me pego cheio de vontade de recomeçar com animação, mas isso não ocorre há algum tempo. Meu sonho é não ter vontade de parar, é ser mais pró-ativo ou de ser mais resitente à procrastinação, ao "fazer-pelas-coxas". Sonhos, vivo disso.

Mas hoje é dia do amigo e eu fico feliz, muito feliz, por ter tantos deles. Tão importantes para mim, tão influentes em minha vida. Prontos a me ouvir, a me falar, a dar seus puxões de orelha, a comemorar e sempre ao lado para dividir as amarguras da vida e tornar os momentos difíceis mais confortáveis. Minha família, amiga! Enfim, é uma palavra cheia de beleza - AMIGO. E que venham bons amigos, à mão cheia! Porque é neles que encontro força pra lidar com todas estas dificuldades por ser o confuso e muitas vezes despreparado que sou.

Feliz dia do amigo!

Polin

terça-feira, 10 de julho de 2012

Facilidade em esquecer o que sou

Tenho uma dificuldade imensa em me contentar. Uma capacidade enorme de admirar e querer tanta coisa, e de me aborrecer também. O chato é que muitas vezes aborreço-me comigo mesmo. Sou difícil, mas tomei uma certa decisão agora há pouco. Tentarei seguir caminhos mais fáceis, de menos sofrimento e de mais beleza. Ser coerente, ter foco. À luta!

Grande abraço de alguém que está com muita saudade das maravilhas mineiras e que aguarda ansiosamente que passem rápido esses três próximos dias.

Polin

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Crônica - Sou prefeito de Porto Firme

Sou prefeito de Porto Firme
Paulo Freitas

Esta é minha primeira crônica como o escritor Paulo Freitas, que me tornei há pouco. Não que eu não fosse Paulo Freitas, já que este é meu sobrenome há exatos 19 anos, 10 meses e 25 dias, mas é que nunca tive muita coragem de revelar algo que está presente em minha vida há mais ou menos este mesmo tempo: sou um escritor.
Gosto de escrever, por prazer e às vezes por necessidade de fugir da rotina, de parar de fazer o que todos fazem e para ter o que fazer quando não há ninguém para conversar num domingo a tarde. Enfim, chega de falar. Vamos à crônica em si.
Geraldo Magela é um senhor obeso e não soube o que responder quando alguém lhe perguntou onde ficava o toillet, porque não sabia o que era o toillet. Ele simplesmente deixou cair a bolacha que segurava na rechonchuda mão esquerda e foi apanhá-la com sua dificuldade habitual enquanto outra pessoa mais entendida respondia ao questionamento da madame. Geraldão sabia sair de algumas situações embaraçosas, mas infelizmente seu comportamento razoável nas reuniões sociais e até profissionais, naquele dia, parou por aí.
Estávamos (na verdade eu não estava, mas meu primo estava usando meu nome naquela reunião porque eu não podia ir e também nem queria, a não ser para presenciar os fatos pitorescos de um encontro como aquele) todos esperando pelo grande pronunciamento do novo presidente da Bomlachas, a empresa líder no setor alimentício da zona oeste da terceira região administrativa do distrito de Manguezal Seco. Esse nome, para mim, só reduz a abrangência de mercado da Bomlachas, mas a família Arabino gosta da pompa que carrega o seu marketing. Sem contar que a ortografia da marca desagradava muita gente. Nicanor Arabino estava atrasado e a pouca bolacha que foi reservada para o coquetel (a sua família era famosa pela avareza) já havia acabado antes mesmo de meu primo acabar de cumprimentar a todos os Arabinos. Só lhe restava ajeitar o esparadrapo que cobria parte de seu rosto para enganar o pessoal que acreditava estar conversando comigo e é claro manter a conversa-sem-pé-nem-cabeça com este mesmo pessoal.
Finalmente foi anunciada a chegada do Nicanor e mais ou menos nesta hora ocorreu o diálogo que nomeia esta crônica. Meu primo, que até tem nome, mas não vale a pena citar, é quem me contou. Reproduzi-la-ei:
“O Geraldão pegou um punhado de café na grande garrafa que servia o pessoal esfomeado e constatou que não estava adoçado. Ele, então, procurou pelo açúcar, mas também já havia acabado. Foi então que viu uma moça pingar umas gotinhas de um líquido transparente no seu café e fazer cara de quem gostou. Ele então pegou o vidro da sua mão e despejou suas gotinhas. Foi quando a moça perguntou:
_ Ei, o Senhor é diabético?
No que Geraldão respondeu:
_ Não minha filha! Eu sou o prefeito de Porto Firme.”
A cena foi marcante pro meu primo. A moça deu uma golada no café para ver se continha seu riso e acabou engasgada. O Geraldão não entendeu nada e olhou torto para sua xícara de café, desprezando o ataque da senhorita e dando uma golada rápida. Gostou. Gostou tanto que ordenou que buscassem mais Bomlachas para acompanhar.
Daí em diante esta se tornou a resposta mais prática que eu, meu primo e toda a família Maia de Freitas podemos dar quando não sabemos o que dizer. Se eu sou misantropo? Não, sou prefeito de Porto Firme. Se eu sou claustrofóbico? Não, sou prefeito de Porto Firme. Se eu sou filantrópico? Não, sou prefeito de Porto Firme. E por aí vai...

Em homenagem ao meu amigo Raoni Pais

domingo, 13 de maio de 2012

Uma pequena passagem de um casinho ocorrido no lotação

Sábado a noite, voltando para casa, sozinho. Sentei ao lado de uma moça no lotação, em silêncio. Com fones de ouvindo e Queen eu faria uma viagenzinha sem graça, no meu mundinho, como muitos fazemos. Incrível como estamos sempre todos calados, preferindo prestar atenção na música de sempre ou no barulho chato do ônibus... Mas disso eu falo em outra hora!
Num momento percebi que o rapaz que estava sentado imediatamente atrás da moça começou a mexer nos cabelos dela, ato que ela desaprovou se inclinando para a frente e também trazendo seus cabelos para o peito. Tirei os fones para tentar entender a situação. Ainda estavam em silêncio. Mais uma vez aquilo se repetiu e ela demonstrou desagradar. Foi então que eu virei para trás, sem saber quem eram aquelas duas pessoas:
_ Ô Cara, respeite a menina!
Foi tão impulsivo e no mesmo impulso ela respondeu:
_ Ah não, ele é meu namorado.
Minha expressão deve ter sido engraçadíssima para quem assitiu àquilo, saltaria do ônibus naquela hora se estivéssemos parados num ponto. Mas não estávamos, escondi-me recolocando os fones e aumentando o volume de "I want to break free".
Mas ao mesmo tempo fiz uma breve reflexão, retirei (acho que nunca usei essa palavra com esse sentido - tirar de novo) os fones e soltei:
_ Mas me desculpem, jamais imaginaria que seriam namorados. É que você ( a moça) demostrou que fora incômoda a ação dele. Já vi caras petulantes incomodando meninas e julguei que era o caso.
Eles não rsponderam nada. Só um risinho dela. Então fui claro:

_ Sábado a noite, vocês namorando. Como assim que cada um senta em um banco no ônibus. Tratem já de se acertarem. Desculpem pela intromissão, mas vocês merece ser felizes.
Não sei se isso consertou alguma coisa. A menina falou que não tinha problema e o cara continuava com a cara de bobo de um homem que tenta agradar a mulher com quem acabou de ter uma discussão, mexendo nos seus cabelos.
Recoloquei os fones e segui viagem, não dei meu lugar ao cara e a menina não se prontificou a transferir para o lado dele, na dupla de poltronas imediatamente atrás. Mas fiz isso para tentar ser imparcial na decisão dos dois de se reconciliarem. Alguns instantes depois ela começou a se mexer, até que tomou coragem, me pediu licença e saltou para trás. Dei uma de desinteressado, ainda estava meio envergonhado. E pensei que não cabia a minha presença na história dos dois. Aquilo ali era deles. Coloquei "Love of my life" no último volume, só pra mim. Pensei em amores, segui até em casa, sem olhar pra trás.
E torci pra que ficassem bem, aproveitassem seu namoro. Estarão juntinhos agora? Quem sabe? Quem são eles?
São Paulo e a poesia de seu dias, obrigado por todas as experiências fantásticas que estais me proporcionando.

Bom domingo,

Polin Maia

Bem-me-quer, mal-me-quer

Florzinhas estavam à beira do caminho, na estrada da casa da minha Vó São. Era uma tardinha, eu saí andando pela estrada para pensar um pouco na vida, e a beleza dessas florzinhas, do bem-me-quer, mal-me-quer feito com elas, me despertou o que agora reproduzo / compartilho.
___x___x___
Bem-me-quer, mal-me-quer
Mal-me-quer, bem-me-quer
Catei uma florzinha à beira da estrada
Lembrei da coisa que as meninas faziam
Do bem-me-quer, mal-me-quer.

E fazendo com uma florzinha, mais duas ou três
Sempre caía no  mal-me-quer.

Fui contar e descobri
Que todas as florzinhas tinham número par de petalazinhas
E bastou que eu dissesse o mal-me-quer antes do bem-me-quer
Para que ao final sempre caísse no bem-me-quer. 
Pode você ir na beira da estrada da casa de minha vó e conferir!

E mais que isso, entendi que não é a florzinha que me diz se bem-me-quer ou mal-me-quer
É só eu escolher com qual querer eu vou começar a contar.
E assim, sou eu quem define se bem-me-quer ou mal-me-quer.

E alguns dirão que isso deixa tudo menos simbólico e gracejante. Não conte a nenhuma menininha sonhadora, ainda que você a seja, que descobriu isso. Deixe-a seduzir pelo bem-me-quer, mal-me-quer. Ah, vai que a florzinha dela também não siga o padrão das minhas!

Agora peço somente que deixe minha menina bem-me-querer.
 
___ x___x___

Grande abraço, 

Polin Maia

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Concurso Cultural do Globo Universidade

Boa madrugada.

Pois é, pessoal. Ganhei um concurso cultural do Globo Universidade sobre #calouros. Sempre segui este programa e recomendo. E apareci no site da Globo: Clique aqui - Eu no site do Globo Universidade

Agora é só esperar os prêmios chegarem!

Abraços,

Paulo Henrique

Biblioteca da Venda (BDV) - Novidades. Visite lá.

Novidades lá.

http://bibliotecadavenda.blogspot.com.br/2012/04/mais-novidade-e-mais-vontade.html

Obrigado.

Bom feriado

Paulo Henrique

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Biblioteca da Venda

"Biblioteca da Venda" é um nome de três: deste post, do meu (nosso) novo blog e da futura biblioteca comunitária de Venda Nova - Piranga - MG.

Estou imensamente feliz com este novo projeto. E o melhor é saber que ele será construído por várias mãos e muitos sonhos. Deixem-me apresentar:

Venda Nova - Piranga - MG. Meu endereço mais doce, que me remete à descoberta do mundo todo tempo. Foi ali que nasci e me fiz, ainda incompleto, mas apto a me encher das maravilhas do mundo. Lembro-me dos nadares no rio, das incontáveis brincadeira de criança, das história de pai, histórias de mãe e de aventuras campais. E um carinho enorme pelas pessoas de minha infância, que são também minhas pessoas da idade adulta. E uma lembrança magnífica dos livros e histórias e cadernos da infância simples, da realidade distante dos grandes centros, do incrível lugarzinho escondido na beira do rio.

Essa Venda Nova de hoje é um local lindo e tranquilo, onde as garras da civilização não nos machucam. Somente levam para lá as saudáveis comodidades do século XXI. Mas, trazendo para um discurso mais político, a beleza das histórias escritas, a magia das artes passa um pouquinho longe de lá. E o Projeto "Biblioteca da Venda" quer tapar este buraco. Inicialmente a ideia é encher a Venda Nova de livros, de literatura, de arte, de magia, em seus amplos espectros de influências. A comunidade rural terá acesso a tudo isso, será dona de tudo isso. Com o passar do tempo a ideia é crescer, transbordar e levar esta cultura tão magnífica aos arredores, ma vamos com calma.

Sou morador de São Paulo e aqui tenho certeza de que encontrarei muita gente disposta a me ajudar. Por isso eu peço livros mesmo, corro atrás de coleções, busco o conhecimento e a beleza escondidos em tinta para levar ao lugar de minha infância, à nossa biblioteca comunitária. Só tenho ajuda a pedir...

Acessem:
bibliotecadavenda.blogspot.com.br

Logo logo muitas novidades.

Saudações,

Polin Maia

domingo, 1 de abril de 2012

Visão

Acabei de comentar que não pretendo seguir na área da oftalmologia. Sei da precipitação que me ocorre e dos dizeres apressados próprios de alguém que tem necessidade de anunciar, mas acho que falei isso com alguma verdade.

Não que eu não admire a oftalmo - dependo muito dela, e acho consultório de oftalmologia um lugar incrível - acho digníssimo oferecer saúde visual às pessoas. Mas apenas tenho outras vontades médicas.

Não é linda a oftalmo porque os olhos sejam lindos, mas lindo é o que eles vêem. Lindo é este mundão todo, lindo é senti-lo seu. Somos os donos do mundo todo, responsáveis apenas por cuidar de um pedacinho dele, com nossa visão.

Nossa visão é aventureira e se cansa de apenas observar. Começa a sentir. Manda o cérebro guardar informações para depois trazer à lembrança e ainda utiliza o sistema ocular para escorrer água que externaliza a dor da saudade e da dor da doença.

A visão é algo que me excita, além dos cones e bastonetes, como alma amante do mundo. Contemplações dessa Terra de mazelas e alegrias pessoais, urbanas, rurais e cotidianas. Sou feliz por ter a visão e por lutar para que enxerguemos o mundo.


E de admirar a visão, vem a preocupação relativa a o quê enxergamos, sentimos, provamos, introduzimos em nossa experiência. É preciso se atentar, pois nos povoamos de muita coisa ruim e de imagens tristes e hostis. Sintamos a beleza do mundo e busquemos a beleza de nossa janelas. Da casa e da alma.

Uma excelente semana a você.

polin maia

sexta-feira, 30 de março de 2012

Eu tenho pressa e tanta coisa me interessa

Era 1984 e meu pai nem conhecia minha mãe. A campanha pelas Diretas Já juntava todo tipo de gente animada e a juventude fazia toda estrepolia. A vida era anos 80! Foi por aí que o Kid Abelha e os Abóboras Selvagens gravaram a canção "Nada Tanto Assim" que hoje, quase trinta anos mais tarde, parece ter sido escrita pra mim.

Eu tenho apenas 20 anos e me sinto mal ao falar de algo que não presenciei ou acompanhei - os anos 80, que para mim foram anos incríveis e eu, de alguma forma, estive por lá. Uma sensação ultra-nostálgica!

Mas, bem, não falarei dos anos 80. Um dia, quando souber um pouco mais sobre eles, tentarei soltar-lhes as palavras. Aguardem. Meu papel aqui, hoje, é falar de como "eu tenho pressa, tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim."

Andei lendo por aí que é próprio de poeta maluco esse tipo de sentimento: o saber raso sobre determinado assunto, a incompletude de informações. E deve ser de poeta mesmo, porque esses são dois sentimentos que ando tendo: sinto que sou um poeta e que sei muito pouco de muita coisa. Algo terrível para a cabeça de alguém que se julga curioso e interessado por natureza!

A Paula Toller, não é segredo, é uma das minhas artistas favoritas. Encantam-me seus trejeitos de moça alegre e de mulher das palavras, e o que ela diz me conforta (por saber que não sou o único a sentir isso) e me desafia ao mesmo tempo: é assim que continuarei a me apoderar do conhecimento? Raso desse jeito?

Quero muito/sonho acordado que a resposta seja não. Para mim é fantástico quando alguém disserta horas e horas sobre algo com propriedade e lucidez. Sinto falta disso em mim e aí vem outra pergunta: isso é algo que está em mim ou que eu adquiri há pouco (ou há muito e só agora percebi)? E mais: é influência dos dias de hoje? Temo que sim.

Do último trecho tiro essa conclusão: Por isso me encantam os anos 80! Lá talvez eu pudesse saber muito de muita coisa, ou talvez de pouca, mas seria feliz com o conhecimento que tivesse. Nos dias que meu calendário expõe na parede as coisas acontecem aos montes ou são noticiadas à exaustão. Sei que essa afirmação é um clichê, mas é a única justificativa social para o mau-conhecimento do poeta. Porque sabem aqueles que comigo compartilham a vivência nobre da poesia que muito do que sentimos não é possível explicar na língua dos homens.

E se minha justificativa social estiver errada, aí a coisa tá feia mesmo: Sinto algo que nem consigo explicar, mas continuo sentindo. E isso é muito humano.

polin maia