Terminei o último texto para este
blog comentando do meu apreço pelo tempo e por sua passagem. Parece estranho
admirar tanto algo tão habitual e abstrato quanto o tempo, mas esse famoso fio
condutor da história é meu companheiro ao travesseiro todas as noites em que
revivo, planejo e sonho toda a existência.
Há exatamente um ano fiz uma
análise sobre o primeiro semestre de 2012 e guardei aquele texto comigo.
Surpreendi-me, na época, com as mudanças implementadas nos seis meses da nova
fase da minha vida, e chamei justamente de nova fase porque foi quando me mudei
para São Paulo (isso alguns de vocês que me leem já devem saber). Hoje verifico
que foi um erro chamar aquele período de “o tempo da grande mudança da minha
vida”, pois, como comentei no texto anterior, 2013 é sim o grande ano das
coisas novas.
Antes do primeiro semestre de
2012, quando ainda estava em Minas, eu costumava determinar um dia do
calendário em que ocorreria uma mudança completa nos meus hábitos e na minha
atuação nesse mundo. E acabei por determinar tantas e tantas datas (quase
diariamente) e nada acontecia – o caos da vida perpetuava. Datas como essa, o
início de um novo semestre – 1º de julho, amanhã – certamente estavam incluídas
como um ponto no tempo em que tudo se resolveria. E eu botava toda a minha fé
nisso, mas não me mexia nem um centímetro.
Com o mesmo tempo, fui percebendo
que não adiantava determinar uma data da revolução pessoal porque essa revolução
é feita aos poucos, trabalho diário, construção coletiva, o mundo mudando com a
gente. E aí, graças a uns breves períodos de lucidez nesse caos, consegui fazer
alguma coisa que me permitiu senão mudar totalmente o jeito de levar a vida, trocar
de casa, de cidade, de curso de graduação, de profissão e talvez de futuro. E
então cheguei naquela “nova fase” e escrevi um texto. De certa forma acreditei
que a mudança tinha acontecido, mas o pano de fundo da existência continuava muito
semelhante.
Acho que não marquei para 1º de
julho de 2012 uma data de impacto no meu calendário da vida, mas me lembrei desse
costume hoje e, ao verificar que alguma mudança pronunciada vem ocorrendo,
resolvi decretar para 1º de julho de 2013 a data em que simbolicamente começa
uma verdadeira nova fase da vida. Tendo o dia inicial do segundo semestre como
um marco, pretendo que de amanhã em diante eu consiga viver de forma mais prazerosa,
sadia e interessante. Tudo o que vivi e pensei recentemente, todos os novos
sonhos e as reciclagens dos antigos – que eu consiga desfrutar de ânimo e
sabedoria para atuar da forma como desejo e me faz bem com tudo isso.
Esse texto aqui é uma tentativa
de abordar todas as minhas passagens mais recentes, ainda que superficialmente,
numa só análise. A partir dessas vivências estou contruindo o meu futuro e acho
importante registrá-las, bem como a minha impressão sobre elas.
Pretendia fazer uma análise
cronológica do que foi essa vida nova, mas prefiro citar os pontos importantes à
medida em que forem surgindo em minha lembrança.
Bem, engajei-me mais fortemente
no movimento estudantil, da Medicina e Geral e com isso aprendi bastante sobre
política, lutas sociais e, sobretudo, tornei-me mais crítico e empenhado.
Graças a esse mérito, fiz viagens incríveis, onde conheci pessoas igualmente
incríveis ou fortaleci os laços pré-existentes.
Conheci um pedaço da Amazônia em
janeiro, num viagem-aventura em que utilizei bastante o senso de liberdade e
voltei no fundo conhecendo mais a mim mesmo do que qualquer outra coisa. Estou
com um texto sobre essa viagem empacado aqui, mas pretendo terminá-lo e
publicarei em breve.
Minhas aulas na faculdade
voltaram no início de fevereiro e eu, diante da explosão interna de pensamentos
e revoluções pessoais, vim desde lá derrapando em cada atividade, aula,
compromisso, prova, trabalho... certamente o meu rendimento acadêmico está desprezível,
mas nada que não seja possível melhorar no próximo semestre que começa amanhã –
um marco mágico no calendário :]
Os sentimentos estiveram à
flor-da-pele nesse primeiro semestre. Ternuras antigas e novas e doses inesperadas
de afetos novos ou não me abalaram e eu ando meio que ainda tentando
compreender que bicho é esse chamado amor ou que bichos são aqueles chamados
desejo, ódio, carinho, responsabilidade, admiração ou simplesmente amizade. O amor
físico tornou-se algo mais questionável para mim, e comecei a trazer mais para
o plano cotidiano as considerações sobre o que o envolve. Estou pensando em
textos para isso também e publico em breve.
Tornei-me professor. Fui a uma
reunião para conhecer a rotina de um cursinho popular e no fim da tarde já
havia recebido o cargo de professor de Biologia. Estou dando aulas desde março
no cursinho Laudelina, da Rede Emancipa, no Alto do Ipiranga, em São
Paulo. Empenhei-me bastante em aprender a dar aulas, porque nunca tinha feito
isso, e em estudar Biologia. E fui muito feliz, certamente aprendi mais que
ensinei e fiz amigos para a vida toda.
Comecei a me dedicar a duas Ligas
Acadêmicas, de Psicanálise e de Hepatologia (na área de cirurgia do fígado).
Foi muito bom para estreitar laços com professores e adentrar um pouquinho mais
na Medicina, principalmente porque são duas áreas bem diferentes e que servem
bastante ao meu mundo de mil interesses.
Ingressei no PET-Saúde, um grupo
formado por orientadores e alunos e que busca desenvolver atividades de
vigilância em saúde. Espero desenvolver trabalhos científicos e atuar numa área
que parece não estar muito presente na formação regular da Medicina e penso que
me ajudará a renovar o ânimo com as tarefas acadêmicas.
Manifestações... atos públicos,
debates e formação política – estive em pelo menos seis protestos neste ano, na
USP contra o PIMESP, nas ruas do Centro em favor da revogação do aumento
das tarifas, contra o Feliciano na Paulista e me senti muito motivado em lutar
por meus ideais, pessoais ou aqueles de sociedade.
Vegetarianismo... tornei-me
vegetariano quando estava em Porto Velho, em janeiro. Já tinha um problema com
a ingestão de carne, que muitas vezes me causava alergia e, além disso, queria
melhorar minha alimentação e não tinha muito apreço por bifes e pedaços animais.
Decidi, então, parar de comê-los totalmente. Algumas vezes comi uma esfiha do
Habib’s ou um pedacinho de alguma coisa em meio à comida, mas agora já não como
mais e daqui a pouco começarei a defender os benefícios dessa prática =]
O Coletivo A gente não se
acostuma me é outro grande formador e com as pessoas que dele participam também
aprendi muito e me diverti pra caramba. Realizamos saraus memoráveis e
começamos a atuar de uma forma questionadora frente às mazelas sociais e aos
problemas mais diversos da Santa Casa e de fora dela. É ali que despontou em
mim um ser político e estou bem feliz com essa verdadeira conquista.
Li bastante nestes seis primeiros
meses e isso também me agradou muito. Cozinhei, busquei novos interesses e
aviventei projetos passados. Adquiri novos hábitos, estranhos ou não, curiosos,
benfazejos ou não, depende do ponto-de-vista, mas que têm me feito cada vez mais parecido com aquilo que
eu sou de verdade.
Por fim, posso dizer que uma armadura
está despencando de mim e escrever tudo isso me empolgou para fazer acontecer
aquilo que sonho. Com essa visita aos acontecimentos recentes posso acreditar que
a vida tem feito sentido, tem sido mais plena.
Certamente este texto não está
completo e talvez nem perto disso; sei bem que é uma tentativa
falha de tocar as coisas mais importantes sobre mim e mais falha ainda no
quesito abordar a dimensão daquilo que realmente ocorre. Mas para quem está
passando por uma mudança severa, mas ainda conserva o gosto pela escrita, é
uma experiência extraordinária.
Entro, dessa forma, numa nova
fase. Não me sinto mais paralisado e acho que poderei me mexer centímetros ou
quilômetros daqui para frente. Ao trabalho, então!
Boa Semana! Até o próximo
domingo.
Polin Maia