domingo, 11 de novembro de 2012

Eu não me acostumo [Parte 1]

Este é um domingo bem diferente. Acordei às 6 horas da manhã, peguei busão, metrô e cheguei até o local onde ocorre, neste momento, o "Exame do CREMESP". Trata-se de uma prova aplicada a todo sexto-anista (formando) de Medicina do estado de São Paulo, estritamente teórica e, segundo o próprio Conselho Regional de Medicina, capaz de avaliar a capacidade médica de um indivíduo. Bom e digno médico seria aquele que acertasse mais de 60% das 120 questões objetivas que compõem o Exame. A prova é obrigatória para solicitar a retirada da carteira profissional (número de CRM) no estado, entretanto o resultado pessoal não é condicionante para se retirá-la. O CREMESP lança mão da verdade uníssona de que todos (profissionais, pacientes e população) querem uma saúde de qualidade e tenta vender este modelo de avaliação como uma solução para os problemas da saúde e da má prática médica. Um erro!

Todos nós já passamos por avaliações ao longo da vida e passaremos ainda por muitas. O que eu, baseado em muitas discussões e elaborações a respeito deste Exame, das quais participei, vejo é que a preocupação do CREMESP (um conselho fiscalizador do exercício profissional) não é a Educação e a formação Médica ou a proteção à saúde da população. Este exame terminal, que coloca a culpa de uma formação deficiente apenas no estudante, que desconsidera as escolas e que analisa poucas características essencias a uma boa prática médica não pode ser difundido como algo brilhante e revolucionário, como diz o CREMESP e é aceito pelos mais desavisados. O CREMESP diz que um dos problemas do aumento do número de casos de erro médico é o decréscimo na qualidade da formação médica sustentado pela abertura de escolas despreparadas e desqualificadas. Segundo ele, o exame seria o meio pra dar um basta nesta questão. Esquece o CREMESP que os motivos para se verificar um erro médico ultrapassam muito a formação do estudante e envolvem as insustentáveis condições de trabalho, como por exemplo as extensas e estressantes jornadas de trabalho com as quais o médico convive. Além disso, esquece o CREMESP das estatísticas que revelam que quem anda cometendo erro médico não é o recém-formado, mas sim o profissional no mercado há mais de uma década envolvido com todas aquelas condições tormentosas. 

Frente a tudo isso e mais um tanto de pontos de contestação discutidas no Movimento Estudantil de Medicina nos últimos anos e especilamente nos últimos meses, que inclusive estão amplamente divulgados no blog da DENEM (Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina) Regional Sul-2 tenho uma posição contrária e este modelo de Exame e não me acostumo a ver as decisões unilaterais (como a que instituiu a obrigatoriedade do exame) prevalecerem da forma autoritária como estamos vendo.

Lá no local do Exame, onde fui esta manhã, nos mobilizamos (alunos da USP, UNIFESP, Santa Casa, UNESP, UNICAMP e outros) para divulgar a opção pelo boicote à prova lançada pelo CAAL-UNICAMP e apoiada por várias assembleias de estudantes e outros Centros Acadêmicos. Não acreditamos na fidelidade entre o resultado desta prova e a vocação e conhecimento médico do formando, além de ser errada uma avaliação somente desse aluno em detrimento da sua escola médica. Além de tudo, essa avaliação antecipa um futuro Exame de Ordem que o próprio CREMESP defende, algo que poderia taxar qualquer bacharel em Medicina de incapaz e desqualificado e não oferecer chances de ele reorientar sua formação, buscando corrigir falhas, uma vez que ele já estaria fora da escola médica.

A voz de hoje é: Exame do CREMESP NÃO! Queremos e precisamos ser avaliados de verdade, pelos órgãos a que isso compete. Queremos uma educação médica de qualidade e uma saúde melhor.

Eu continuarei a não me acostumar e trago mais no próximo domingo ao meio-dia. 

Boa tarde. Boa semana.

Polin Maia

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Polin Maia