domingo, 7 de julho de 2013

A casa onde moro

Tenho uma frase que uso para me definir nos momentos em que a poesia pede: "Sou um pequeno poeta palhaço, precisando de mais tempo e de menos espaço". Com esse verdadeiro subtítulo que uso para minha existência consigo dizer quase tudo que de importante eu tenho ou eu sou. Tenho noção do meu tamanho diminuto, das minhas limitações (e do meu poder de superá-las) e da grandeza do mundo todo – por isso me chamo pequeno. Tenho em mim a poesia, não só a poesia dos versos, mas a poesia materializada nas ações do dia-a-dia e no jeito de ver as coisas. O palhaço chega para ser a alegria que não encontro no mais profundo e para dar leveza à vida. 24 horas, 365 dias ou apenas uma vida não são suficientes para meus mil interesses. Por fim, quando falo de menos espaço... Bem, esse é um tema paradoxal para mim.

Peço menos espaço devido à incapacidade de me agarrar ao meu espaço presente. Sou desses que fazem mil planos e querem estar em qualquer lugar, menos aqui. Perco o interesse pelo local onde estou com uma extrema facilidade e, ao perder a vontade de estar aqui, me perco e me vejo como esses navegadores que ao descobrirem novas terras, logo precisam partir em busca de outras aventuras, deixando a sua descoberta nas mãos de alguém que julgam mais preparado para o cuidado. Por outro lado, essa desfronteirização do meu espaço me permite ser alguém que sonha mais e não se contenta. E como vivo de sonhos, acabo me encontrando nessa difícil contradição.

Já morei em sete casas e mais a da minha vó. Nunca morei ali verdadeiramente, mas posso dizer que é a casa que mais conheço e onde mais me reconheço. Quando estou lá, o Pulinha, o Polin, o Tião, o Paulo, o Tipola e todos os outros eus se encontram e sorriem um para o outro. E também choram lembrando dos tempos idos, das aventuras passadas, das despedidas e dos reencontros com avós, primos, primas, tios e tias. Talvez por nunca ter mesmo morado ali, é o lugar onde mais me agarro, onde mais desejo estar ou pra onde mais quero voltar.

A casa dos meus pais, o sítio à beira do riacho e atrás das montanhas de Minas, é outro lugar que consegue me fascinar bastante, mas tenho um problema peculiar com ele. Foi ali que passei a minha infância e, quando volto, é impossível não sofrer com a nostalgia. Lembro-me dos dias inteiros de brincadeiras de criança, de aventuras e da sensação de que nada seria capaz de incomodar nossa vidinha à luz do Sol e da Lua.

Morei com amigos, quando estudava em Viçosa. Chamava república, mas não sei bem se é o modelo de república que você imagina. Havia uma liberdade incrível e finalmente parecia que eu morava sozinho, apesar de ter outras três ou quatro pessoas dividindo o mesmo teto. Na República Arcoverde morei com grandes amigos e qualquer dia desses venho aqui relembrar aquele local único no Bairro de Fátima...

Morei em uma casa alguns meses, numa comunidade perto do sítio... mas eu era pequeno e nem me lembro direito.

Morei com minha Tia Ana e sua família em Conselheiro Lafaiete por dois anos. Foi quando me mudei para a cidade e tudo era absolutamente novo e espantoso, mas me adaptei rapidinho. Entre meus primos, a gente ri e comenta que eu cheguei como um “jequinha” na cidade grande e agora não tenho cara nenhuma de quem nasceu na roça. Por cara, queremos dizer jeito, modos, costumes, essas coisas...

“Morei com minha mãe mais meu pai que ia nos visitar” em Lafaiete durante a adolescência. Foram tempos interessantes, de eu olhar para dentro de mim e ao mesmo tempo buscar ver o mundo à minha volta. Hoje sinto como se tivessem passado num piscar de olhos, apesar de terem sido cinco anos. Acho que deve ter sido pouco tempo, e hoje eu peço mais.

Finalmente, a casa onde moro! Estou em São Paulo desde o início do ano passado com a Denise e a Débora (as De’s), minhas “primas”. A Denise é minha prima mesmo e amiga de infância, a Débora me adotou como primo e agora eu a adotei assim também. E com elas e mais o Guto (o cão), vivo em um apartamento que é uma mistura de república com moradia de primos. E eu gosto muito mesmo de morar aqui. Além de vira-e-mexe relembrarmos os tempos idos com saudades, estamos sempre aprendendo com as experiências de cada um e de todos juntos. 

Acabei revisitando minhas residências e chego agora num desfecho interessante. Acho que estou começando a reconhecer um erro na minha frase de apresentação. Continuo o pequeno poeta palhaço que precisa de mais tempo, mas penso que no fundo mesmo eu preciso também de mais espaço. A retirada de fronteiras e a necessidade de ser de todo o mundo me impulsionam a trocar o menos por mais, e agora sairei por aí anunciando meus desejos: mais tempo e mais espaço.

Nessa casa onde eu estou, tenho as condições materiais para viver bem e, de quebra, tenho a companhia de duas meninas de quem gosto muito. Mas, acima de tudo, é aqui que estou me encontrando e certamente esse lugar me marcará para sempre.

“Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo.”
Saramago

Abraços,

Polin Maia

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Polin Maia