domingo, 30 de junho de 2013

Um texto pretensioso sobre todas as coisas

Terminei o último texto para este blog comentando do meu apreço pelo tempo e por sua passagem. Parece estranho admirar tanto algo tão habitual e abstrato quanto o tempo, mas esse famoso fio condutor da história é meu companheiro ao travesseiro todas as noites em que revivo, planejo e sonho toda a existência.

Há exatamente um ano fiz uma análise sobre o primeiro semestre de 2012 e guardei aquele texto comigo. Surpreendi-me, na época, com as mudanças implementadas nos seis meses da nova fase da minha vida, e chamei justamente de nova fase porque foi quando me mudei para São Paulo (isso alguns de vocês que me leem já devem saber). Hoje verifico que foi um erro chamar aquele período de “o tempo da grande mudança da minha vida”, pois, como comentei no texto anterior, 2013 é sim o grande ano das coisas novas.

Antes do primeiro semestre de 2012, quando ainda estava em Minas, eu costumava determinar um dia do calendário em que ocorreria uma mudança completa nos meus hábitos e na minha atuação nesse mundo. E acabei por determinar tantas e tantas datas (quase diariamente) e nada acontecia – o caos da vida perpetuava. Datas como essa, o início de um novo semestre – 1º de julho, amanhã – certamente estavam incluídas como um ponto no tempo em que tudo se resolveria. E eu botava toda a minha fé nisso, mas não me mexia nem um centímetro.

Com o mesmo tempo, fui percebendo que não adiantava determinar uma data da revolução pessoal porque essa revolução é feita aos poucos, trabalho diário, construção coletiva, o mundo mudando com a gente. E aí, graças a uns breves períodos de lucidez nesse caos, consegui fazer alguma coisa que me permitiu senão mudar totalmente o jeito de levar a vida, trocar de casa, de cidade, de curso de graduação, de profissão e talvez de futuro. E então cheguei naquela “nova fase” e escrevi um texto. De certa forma acreditei que a mudança tinha acontecido, mas o pano de fundo da existência continuava muito semelhante.

Acho que não marquei para 1º de julho de 2012 uma data de impacto no meu calendário da vida, mas me lembrei desse costume hoje e, ao verificar que alguma mudança pronunciada vem ocorrendo, resolvi decretar para 1º de julho de 2013 a data em que simbolicamente começa uma verdadeira nova fase da vida. Tendo o dia inicial do segundo semestre como um marco, pretendo que de amanhã em diante eu consiga viver de forma mais prazerosa, sadia e interessante. Tudo o que vivi e pensei recentemente, todos os novos sonhos e as reciclagens dos antigos – que eu consiga desfrutar de ânimo e sabedoria para atuar da forma como desejo e me faz bem com tudo isso.

Esse texto aqui é uma tentativa de abordar todas as minhas passagens mais recentes, ainda que superficialmente, numa só análise. A partir dessas vivências estou contruindo o meu futuro e acho importante registrá-las, bem como a minha impressão sobre elas.

Pretendia fazer uma análise cronológica do que foi essa vida nova, mas prefiro citar os pontos importantes à medida em que forem surgindo em minha lembrança.

Bem, engajei-me mais fortemente no movimento estudantil, da Medicina e Geral e com isso aprendi bastante sobre política, lutas sociais e, sobretudo, tornei-me mais crítico e empenhado. Graças a esse mérito, fiz viagens incríveis, onde conheci pessoas igualmente incríveis ou fortaleci os laços pré-existentes.

Conheci um pedaço da Amazônia em janeiro, num viagem-aventura em que utilizei bastante o senso de liberdade e voltei no fundo conhecendo mais a mim mesmo do que qualquer outra coisa. Estou com um texto sobre essa viagem empacado aqui, mas pretendo terminá-lo e publicarei em breve.

Minhas aulas na faculdade voltaram no início de fevereiro e eu, diante da explosão interna de pensamentos e revoluções pessoais, vim desde lá derrapando em cada atividade, aula, compromisso, prova, trabalho... certamente o meu rendimento acadêmico está desprezível, mas nada que não seja possível melhorar no próximo semestre que começa amanhã – um marco mágico no calendário :]

Os sentimentos estiveram à flor-da-pele nesse primeiro semestre. Ternuras antigas e novas e doses inesperadas de afetos novos ou não me abalaram e eu ando meio que ainda tentando compreender que bicho é esse chamado amor ou que bichos são aqueles chamados desejo, ódio, carinho, responsabilidade, admiração ou simplesmente amizade. O amor físico tornou-se algo mais questionável para mim, e comecei a trazer mais para o plano cotidiano as considerações sobre o que o envolve. Estou pensando em textos para isso também e publico em breve.

Tornei-me professor. Fui a uma reunião para conhecer a rotina de um cursinho popular e no fim da tarde já havia recebido o cargo de professor de Biologia. Estou dando aulas desde março no cursinho Laudelina, da Rede Emancipa, no Alto do Ipiranga, em São Paulo. Empenhei-me bastante em aprender a dar aulas, porque nunca tinha feito isso, e em estudar Biologia. E fui muito feliz, certamente aprendi mais que ensinei e fiz amigos para a vida toda.

Comecei a me dedicar a duas Ligas Acadêmicas, de Psicanálise e de Hepatologia (na área de cirurgia do fígado). Foi muito bom para estreitar laços com professores e adentrar um pouquinho mais na Medicina, principalmente porque são duas áreas bem diferentes e que servem bastante ao meu mundo de mil interesses.

Ingressei no PET-Saúde, um grupo formado por orientadores e alunos e que busca desenvolver atividades de vigilância em saúde. Espero desenvolver trabalhos científicos e atuar numa área que parece não estar muito presente na formação regular da Medicina e penso que me ajudará a renovar o ânimo com as tarefas acadêmicas.

Manifestações... atos públicos, debates e formação política – estive em pelo menos seis protestos neste ano, na USP contra o PIMESP, nas ruas do Centro em favor da revogação do aumento das tarifas, contra o Feliciano na Paulista e me senti muito motivado em lutar por meus ideais, pessoais ou aqueles de sociedade.

Vegetarianismo... tornei-me vegetariano quando estava em Porto Velho, em janeiro. Já tinha um problema com a ingestão de carne, que muitas vezes me causava alergia e, além disso, queria melhorar minha alimentação e não tinha muito apreço por bifes e pedaços animais. Decidi, então, parar de comê-los totalmente. Algumas vezes comi uma esfiha do Habib’s ou um pedacinho de alguma coisa em meio à comida, mas agora já não como mais e daqui a pouco começarei a defender os benefícios dessa prática =]

O Coletivo A gente não se acostuma me é outro grande formador e com as pessoas que dele participam também aprendi muito e me diverti pra caramba. Realizamos saraus memoráveis e começamos a atuar de uma forma questionadora frente às mazelas sociais e aos problemas mais diversos da Santa Casa e de fora dela. É ali que despontou em mim um ser político e estou bem feliz com essa verdadeira conquista.

Li bastante nestes seis primeiros meses e isso também me agradou muito. Cozinhei, busquei novos interesses e aviventei projetos passados. Adquiri novos hábitos, estranhos ou não, curiosos, benfazejos ou não, depende do ponto-de-vista, mas que têm me feito cada vez mais parecido com aquilo que eu sou de verdade.

Por fim, posso dizer que uma armadura está despencando de mim e escrever tudo isso me empolgou para fazer acontecer aquilo que sonho. Com essa visita aos acontecimentos recentes posso acreditar que a vida tem feito sentido, tem sido mais plena.

Certamente este texto não está completo e talvez nem perto disso; sei bem que é uma tentativa falha de tocar as coisas mais importantes sobre mim e mais falha ainda no quesito abordar a dimensão daquilo que realmente ocorre. Mas para quem está passando por uma mudança severa, mas ainda conserva o gosto pela escrita, é uma experiência extraordinária.

Entro, dessa forma, numa nova fase. Não me sinto mais paralisado e acho que poderei me mexer centímetros ou quilômetros daqui para frente. Ao trabalho, então!

Boa Semana! Até o próximo domingo.

Polin Maia

3 comentários:

  1. Nossa Paulo,tudo isso é simplesmente incrível.Eu já sabia que os passos que você dava,era muito curto e, que o universo é pequeno para você.Vai em frente em busca de seus ideais.parabéns!

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  2. Bacana Paulo! Não conhecia seu blog e gostei muito! Parabéns por permitir-se a tantas mudanças, isso exige abertura e generosidade.
    Ótimo 1° de julho e viva à nova fase! :)

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  3. Nossa, acabei de ler esse texto e alguns pedaços de outras coisas aqui espalhadas...
    Eu, provavelmente devia estar estudando neuroanato. Ou, não.
    Fiquei muito feliz e até empolgada lendo o texto... era como se eu conseguisse sentir felicidade nas palavras, uma empolgação boa; a de viver - aprender, trocar e construir. Mudar.
    É tão raro ver as pessoas assim, mordendo o mundo... E ainda mais se abrindo à ele, como você o fez. Parabéns pela coragem. Parabéns por não ser passivo a vida.
    Acredito que a verdadeira nobreza seja essa; usar bem a única coisa que é verdadeiramente nossa: o TEMPO!
    torço e espero grandes coisas de você!

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Polin Maia