Sou
prefeito de Porto Firme
Paulo Freitas
Esta é minha primeira crônica
como o escritor Paulo Freitas, que me tornei há pouco. Não que eu não fosse Paulo
Freitas, já que este é meu sobrenome há exatos 19 anos, 10 meses e 25 dias, mas
é que nunca tive muita coragem de revelar algo que está presente em minha vida
há mais ou menos este mesmo tempo: sou um escritor.
Gosto de escrever, por prazer e às
vezes por necessidade de fugir da rotina, de parar de fazer o que todos fazem e
para ter o que fazer quando não há ninguém para conversar num domingo a tarde.
Enfim, chega de falar. Vamos à crônica em si.
Geraldo Magela é um senhor obeso
e não soube o que responder quando alguém lhe perguntou onde ficava o toillet, porque não sabia o que era o toillet. Ele simplesmente deixou cair a
bolacha que segurava na rechonchuda mão esquerda e foi apanhá-la com sua
dificuldade habitual enquanto outra pessoa mais entendida respondia ao
questionamento da madame. Geraldão sabia sair de algumas situações embaraçosas,
mas infelizmente seu comportamento razoável nas reuniões sociais e até
profissionais, naquele dia, parou por aí.
Estávamos (na verdade eu não
estava, mas meu primo estava usando meu nome naquela reunião porque eu não
podia ir e também nem queria, a não ser para presenciar os fatos pitorescos de
um encontro como aquele) todos esperando pelo grande pronunciamento do novo
presidente da Bomlachas, a empresa líder no setor alimentício da zona oeste da
terceira região administrativa do distrito de Manguezal
Seco. Esse nome, para mim, só reduz a abrangência de mercado da Bomlachas, mas
a família Arabino gosta da pompa que carrega o seu marketing. Sem contar que a ortografia da marca desagradava muita
gente. Nicanor Arabino estava atrasado e a pouca bolacha que foi reservada para
o coquetel (a sua família era famosa pela avareza) já havia acabado antes mesmo
de meu primo acabar de cumprimentar a todos os Arabinos. Só lhe restava ajeitar
o esparadrapo que cobria parte de seu rosto para enganar o pessoal que
acreditava estar conversando comigo e é claro manter a
conversa-sem-pé-nem-cabeça com este mesmo pessoal.
Finalmente foi anunciada a
chegada do Nicanor e mais ou menos nesta hora ocorreu o diálogo que nomeia esta
crônica. Meu primo, que até tem nome, mas não vale a pena citar, é quem me
contou. Reproduzi-la-ei:
“O Geraldão pegou um punhado de
café na grande garrafa que servia o pessoal esfomeado e constatou que não
estava adoçado. Ele, então, procurou pelo açúcar, mas também já havia acabado.
Foi então que viu uma moça pingar umas gotinhas de um líquido transparente no
seu café e fazer cara de quem gostou. Ele então pegou o vidro da sua mão e
despejou suas gotinhas. Foi quando a moça perguntou:
_ Ei, o Senhor é diabético?
No que Geraldão respondeu:
_ Não minha filha! Eu sou o
prefeito de Porto Firme.”
A cena foi marcante pro meu
primo. A moça deu uma golada no café para ver se continha seu riso e acabou
engasgada. O Geraldão não entendeu nada e olhou torto para sua xícara de café,
desprezando o ataque da senhorita e dando uma golada rápida. Gostou. Gostou
tanto que ordenou que buscassem mais Bomlachas para acompanhar.
Daí em diante esta se tornou a
resposta mais prática que eu, meu primo e toda a família Maia de Freitas
podemos dar quando não sabemos o que dizer. Se eu sou misantropo? Não, sou
prefeito de Porto Firme. Se eu sou claustrofóbico? Não, sou prefeito de Porto
Firme. Se eu sou filantrópico? Não, sou prefeito de Porto Firme. E por aí
vai...
Em homenagem ao meu amigo Raoni
Pais
Muito bom!
ResponderExcluirDemais!
Bravo!